parte iii

PANORÂMA DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS NO BRASIL – 2015

VI Seminário de Petróleo, Gás e Energia Renováveis

Com o dólar americano em alta a tomada de recursos para investimentos em projetos passa a ser mais um complicador. No caso brasileiro, é um dos fatores que inviabilizam a construção da refinaria Premium II no Ceará, projeto que ampliaria a capacidade de refino brasileiro. Nesse momento onde o preço do barril está baixo, e o dólar em alta, passa a ser mais interessante importar derivados que investir em construção de capacidade de refino no país.

Essa estratégia tem sido observada também em outras operadoras, como Shell, Saudi Aramco, entre outras. Com descontinuidade de projetos de refino, e em águas profundas, como no mar Vermelho, os quais são projetos intensivos em investimento.

6 – Queda da Credibilidade da Petrobras

Como medida cautelar, a Petrobras em 30/12/2014 divulgou nota a imprensa indicando o bloqueio em sua lista de fornecedores, um total de 23 empresas, entre grupos econômicos e suas subsidiárias, a saber:

Alusa, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Carioca Engenharia, Construcap, Egesa, Engevix, Fidens, Galvão Engenharia, GDK, Iesa, Jaraguá Equipamentos, Mendes Junior, MPE, OAS, Odebrecht, Promon, Queiroz Galvão, Setal, Skanska, Techint, Tomé Engenharia e UTC.

Os impactos são percebidos principalmente na aversão dos bancos em emprestar recursos às empresas do segundo elo. Um caso emblemático tem sido a situação da empresa Sete Brasil, que dispunha de financiamento do BNDES de longo prazo aprovado em 2013 (para a construção de 29 sondas de perfuração) o qual não é liberado, em função das investigações e do envolvimento de seu diretor de operações Sr. Pedro Barusco. Esse fato irradia diretamente para a indústria naval, uma vez que a Sete Brasil contratou os principais estaleiros do Brasil, a saber:

Principais Estaleiros do Brasil

Estaleiro

Estado

Acionistas

No Funcionários

Enseada[1] Paraguaçu

BA

Odebrech[2], OAS4, UTC4, e Kawasaki

1,7 mil

Jurong3

ES

SembCorp Marine (Cingapura)

1,3 mil

Rio Grande 1

RG

Engevix-Ecovix Construções Oceânicas4

7 mil

Honório Bicalho3

RG

Queiroz Galvão4 e Iesa Óleo e Gás4 (Consorcio QGI)

Estaleiro do Brasil (EBR)

RG

Setal Óleo e Gás4Toyo Engineering (Japão)

700

Atlântico Sul (EAS)3

PE

Queiroz Galvão4, Camargo Corrêa4, Ishilawajima Harima Heavy Industries

4 mil

Enseada Inhaúma

RJ

Odebrech4, OAS4, UTC4, e Kawasaki

6,9 mil

BrasFels3

RJ

Keppel FELS Brasil

ND[3]

Cabe ressaltar que, a SEC americana está acompanhando atentamente a investigações realizadas no Brasil, uma vez que, além da Petrobras todas as demais empresas envolvidas nessa ação, que possuam ações na bolsa americana, são potenciais candidatas a sofrerem sansões por esse órgão regulador. Haja vista que, Pedro Barusco indicou em seu depoimento de delação premiada, o envolvimento de empresas estrangeiras que forneciam à Petrobras, a saber:

SBM – (Holandesa); Skanka – (Sueca); Samsung Heavy Industries – (Coreana); Ishilawajima Harima Heavy Industries, Toyo Engineering, e Kawasaki Heavy Industries – (Japão); Keppel Corporation e SembCorp Marine – (Cingapura);

Dentro da perspectiva de impacto financeiro, a Petrobras pela segunda vez no ano de 2015, obteve rebaixamento em sua nota de grau de investimento pela Agência de Classificação de Risco Moody’s. O que faz com que a empresa seja percebida como “High Yield” (Alta taxa de retorno. São os empréstimos em que as empresas pagam juros sensivelmente altos, e que usualmente são feitos no mercado europeu, são classificados como de High Yield). O rebaixamento foi provocado pela constatação da entidade que os avanços para a publicação do balanço, do terceiro trimestre de 2014, não foram significativos. Com a mudança em seu grau de investimento, a Petrobras corre risco de ter parte de sua dívida (de longo prazo) antecipada, em função da não apresentação do balanço de 2014, o montante é estimado em US$ 56,7 bilhões em dívidas, segundo a Moody’s.

Cabe ressaltar, que no momento essa perda do grau de investimento pela Petrobras ainda não impacta diretamente a nota de classificação do país, uma vez que dispõe de reservas internacionais, e a sinalização dos ajustes fiscais é percebida como sendo viáveis, porém, caso haja necessidade de um socorro à Petrobras com a utilização dessas reservas, o cenário se desestabilizará rapidamente.

6.a – Implicações das investigações da Petrobras no Terceiro e Quarto Elos da Cadeia de Fornecimento.

Dentro da perspectiva do terceiro e quarto elo o que se apresenta é uma situação de complexidade ainda maior, visto que as empresas que compõe esses elos não dispõem de poder de barganha junto a Petrobras, elas são sub contradadas do segundo elo. Como vimos no terceiro elo encontramos empresas de porte Médio-Grande, e Grandes empresas, incluindo os estaleiros. No quarto elo, encontramos a maior parte das empresas que compõem a IPGN brasileira. Para entendermos melhor essa complexidade, vamos nos aprofundar no segmento naval, nos restringindo aos estaleiros. Realizaremos essa analise utilizado o número de trabalhadores como uma proxy de desenvolvimento do setor.

Em 2003, o setor naval dispunha de dois mil trabalhadores ativos, a partir desse ano foram iniciados programas de governo e da própria Petrobras respectivamente: o Prominp (Programa de Mobilização da Indústria de Petróleo e Gás Natural) que tinha como plataforma de política o conteúdo local, e em 2004 o Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota) através da subsidiária da Petrobras, Transpetro. Nesse ponto, observa-se o início da vinculação da Petrobras com as ferramentas de política do governo. O Prominp tinha como fonte, os recursos oriundos da Cláusula de P&D, estabelecida nos contratos de Concessão. O Promef é financiado pelo fundo de marinha mercante. Característica interessante nos projetos era a figura do “estaleiro virtual”, ou seja, uma vez vencedor da licitação dos navios, os estaleiros ao mesmo tempo iniciavam a sua construção física, e a dos projetos. Como foi o caso do Estaleiro Atlântico Sul (EAS). Com essas, e outras ações a evolução do setor foi de dois mil trabalhadores em 2004 para oitenta mil no ano 2012.

Com o início das investigações na Petrobras, já se verifica uma redução de algo próximo de vinte mil trabalhadores. Cabe ressaltar, que essa mão de obra é temporária, o problema está na redução significativa de novos projetos em função da desaceleração dos investimentos e no próprio desinvestimento que será apresentado no novo plano de negócio da Petrobras. No curto prazo, temos o problema da Sete Brasil, empresa que está com dificuldades de realizar os seus pagamentos em função de não ter recebido o aporte do BNDES. No médio prazo, verificamos o bloqueio na lista de fornecedores da Petrobras das empresas do segundo elo, que inclui as suas subsidiárias, entre elas os estaleiros. Além da falta de perspectiva, uma vez que as três plataformas da Petrobras (P-75, P-76, e P-77) foram transferidas para a China, essa transferência se deu por causa dos atrasos causados pela curva de aprendizagem, necessária na retomada desse segmento, e também aos altos custos. O que podemos observar é que o segmento se encontra em uma situação bastante delicada, mesmo com a política de conteúdo local do governo, o segmento conseguiu se desenvolver, porém, ainda não conseguiu ser competitivo em termos globais, o que seria uma saída para contingenciar os problemas que impactam a Petrobras.

7 – A Proposta de ações da GEPI para acompanhar a Indústria de Petróleo e Gás Natural em 2015

Como foi observado no panorama da Indústria de Petróleo e Gás Natural, tanto no Brasil, quanto no mundo, a mesma se encontra em um nível de incerteza muito grande, que pode ser definido como tendo uma grande quantidade de dados, com pouca presença de informação. O que é um complicador para tomada de decisão, ou a construção de estratégias futuras em qualquer elo da cadeia de fornecimento.

Dado o cenário aqui apresentado, a ANDP propõe as seguintes ações:

– Realização de um Workshop em Novembro/2015, com os representantes da IPGN para discutirmos a visão desses atores em relação o quadro regulatório nacional abordando três pontos, a saber:

  • Conteúdo Local;

  • Cláusula de P, D&I;

  • Operador único.

 

– Participar do Congresso OTC em Houston (04 a 08 de Maio de 2015)

  • Oportunidade de perceber qual está sendo a visão da indústria americana de P&G em relação ao rumo do mercado mundial, do ponto de vista do segmento Offshore.

 

– Participar grupo de discussão da International Energy Agency (IEA) – Gas and Oil Technologies Implementing Agreement – GOT/IA.

  • Acompanhar de perto as discussões sobre desenvolvimento tecnológico do setor de petróleo e gás.

 

– Participar do Congresso UTC em Bergen Noruega (16 a 19 de Junho de 2015)

  • Possibilidade de perceber o encaminhamento da Noruega em relação à tecnologia Subsea para os próximos anos.

 

Com essas ações teremos a possibilidade de nos municiarmos de informação para podermos tomar decisões, e principalmente montarmos uma estratégia de ação com vistas a dar suporte à indústria brasileira de petróleo, gás natural e naval, para os próximos anos.

[1] Estaleiro contratado pela empresa Sete Brasil.

[2] Empresas Bloqueadas na lista de Fornecedores da Petrobras.

[3] Informação Não disponível.

Amilton Machado

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